Amor à sabedoria
Excerto do prof. Marcus Eduardo de Oliveira
De certa forma, nesse grande teatro que chamamos Vida, estamos atuando como atores principais, encenando, de certa forma, a busca da Filosofia; conceito esse que vem do grego (Filo + Sofia = amor à sabedoria) e que define, per si, o ideal maior de todos nós: a busca pelo aprendizado e, por conseqüência, do engrandecimento do espírito, mesmo que verifiquemos que a capacidade dos homens de fazer mal a seu semelhante cresça de forma exponencial, o destino de todos nós é sim o aprimoramento, em busca da melhora universal, em busca de uma existência mais ética e menos imoral, mais digna e menos corruptível, mais sábia e menos torpe, mais fraterna e menos insensível, mais amável e mais justa. Ainda que a desigualdade seja superior a igualdade e que a injustiça prevaleça frente ao bom senso.
Sendo essa a verdadeira filosofia que nos cabe buscar, isso nos leva, primeiramente, a “reaprender a ver o mundo”, como nos ensina o francês Maurice Merleau-Ponty, um dos grandes expoentes da fenomenologia, defensor assíduo da teoria da percepção como fonte de conhecimento. Afinal, há algumas verdades incontestáveis. Dentre essas citemos, por exemplo, a título de melhor ilustração dessa busca por uma vida melhor a de que só a sabedoria liberta. “Ser culto é o único modo de ser livre”, nos diz o poeta cubano José Martí; além disso, vale aduzir que a sabedoria torna as pessoas mais atraentes, ainda que o tempo (esse “inimigo” cruel de alguns) sulque a pele e imprima as marcas da velhice. Outra verdade inconteste vem do amor, afinal, só o amor constrói. “Omnia vincit amor”, ou seja, “o amor vence tudo”, nos ensinam os gregos desde priscas eras.
Ainda no âmbito do termo “conhecimento” cumpre ressaltar que esse, por sua vez, nunca pode esperar, pois, simplesmente, não há tempo a perder, não se pode deixar para o amanhã, afinal “Amanhã será sempre tarde”, nos lembra o título de uma bela obra do poeta Saint-John Perse; eis porque o “tempo”, para alguns, soa como adversário.
Nesse pormenor, Quintus Horácio, o primeiro literato de Roma, influenciado por Epicuro de Samos (um dos maiores filósofos do período helenístico) afirmava “quam minimum crédula postero”, ou seja, “acredite o mínimo possível no amanhã”. Em particular, apenas para reforçar essa tese de que o tempo é algo muito valioso e não convém esperar o amanhã, é sempre bom lembrarmo-nos do seguinte provérbio chinês: “Todas as flores do futuro estão nas sementes de hoje”.
Assim sendo, é desse conhecimento então que todos, de certa forma, precisamos, pois o mesmo é algo essencial para a vida, assim como o pólen na atmosfera é também essencial às cerejeiras e aos lótus; ainda que essa vida (a maior dádiva que Deus pode nos ofertar) seja uma fagulha no tempo que rapidamente cintila e logo se apaga, para uma vez mais discorrermos sobre a necessidade de agir de forma rápida.
Pelo lado desse “conhecimento”, a parte teórico-didática de como aplicá-lo da melhor forma coube a nomes que se debruçaram na pedagogia, dentre eles o russo Lev Vigotsky, o suíço Jean Piaget, a italiana Maria Montessori (que também foi à primeira médica a se formar na Itália), o inglês Dewey e o brasileiro Paulo Freire.
Se for verdadeira a afirmação de que é por meio do pensamento que as ações acontecem, que o conhecimento propriamente dito se avizinha e de que somos o resultado do que pensamos, o conhecimento precisa então ser alçado a condição de parceiro inseparável em nossa vida.
O que pensamos determina o que sentimos; “o que sentimos”, nos explica o psiquiatra Augusto Cury, “registramos em nossa memória e, ao registrarmos na memória, determinamos os alicerces de nossa personalidade”. Então, o que pensamos hoje poderá ser o que seremos amanhã. Assim então fazemos o destino dia após dia. Assim construimos esse fadário que nos acompanha hora a hora, minuto a minuto; assim determinamos o que vai acontecer, ainda que “caminhemos por veredas perdidas” para lembrarmos aqui das palavras do filósofo alemão Martin Heidegger.
Ao longo da História do mundo que já passa da casa dos bilhões de anos, muitos foram os “espíritos nobres e iluminados” que tiveram como missão ímpar na Humanidade desbravar fronteiras inatingíveis, conquistar o desconhecido, descobrir os limites do impensável e plantar as sementes do conhecimento, ainda que estas últimas tardem a florir, mas que nunca deixem pois de germinar para o bem de todos nós. Não há dúvidas de que esses seres iluminados, a partir de suas ações (pensamentos) podem muito bem serem chamados de reformadores sociais.
A partir de agora então, na ternura e no estro de alguns desses nobres pensadores-descobridores-desbravadores-reformadores, desses homens que sonharam construir algo novo, desses que cravaram definitivamente seus nomes no panteão da História, desses que com seus “pensares” e suas “atitudes” desbravaram rios infrenes e atravessaram desertos imensos, fizeram acontecer. (Continua...)
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